sábado, 25 de fevereiro de 2012

Sobre o Silêncio e Suicídio

         Ele dizia “Certa vez uma mulher tentou matar-se quando ficou sabendo que meu pai casaria-se com minha mãe...” e eu não pude deixar de encara-lo com receio daquele orgulho todo, que no momento oportuno se voltaria contra mim sem a menor das piedades (como de fato aconteceu), como a velha lança fria corta a carne odiosa sem perguntar-lhe pela dor.
          “Tentou matar-se por meu pai!” ele ostentava  no que eu poderia ter-lhe respondido oportunamente “Vês nisso acaso alguma vantagem? Que tinha ela de menos mulher que tua mãe, para que merecesse tirar a própria vida a fim de não ver o sacrifício da felicidade alheia? Isso não dá maiores direitos a ninguém de ser feliz, menos ainda de tecer comentários orgulhosos. Se tentou matar-se era uma coitada. Pois não viu na vida perspectiva maior do que aquela de ser esposa de seu pai um dia. Saiba que essa com a sina da corda envolta ao pescoço poderia sim ter sido vossa mãe. Sua e de seus irmãos, tão orgulhosos da linhagem farta da qual vieram. Poderias ter nascido sob outro signo que não esse e talvez fosse esse até melhor do que o que carrega. Não sabes, não poderias saber, de certo. Não carregue sobre ti orgulho ante a desgraça alheia e tampouco queria esse tipo de sorte para ti. As pedras no caminho que não nos permitem avançar muitas vezes vem atiradas pela amargura de outrem e não apenas do jugo que nós mesmos carregamos. Dê graças aos céus que não matou-se, que não concluiu tão malfadada sina. Não é bonito matar-se por amor. Tampouco faz de seu pai mais homem do que os outros que não houveram por si amantes tão fieis. Mas se precisas disso para alimentar tua alma, se é esse orgulho vil o qual sustenta tua família, nada além de pena posso sentir de vocês...”  Mas não respondi e meu calei pois se há a sina da morte há também a do silêncio, sob a qual ás vezes me pego, sob a qual ás vezes eu peno.
  Mas se há justamente silêncio, há também o papel e se não pude responder-lhe na hora exata, que o signo da pena me valha e tenho escrito agora essas linhas para livrar-me de tão pesada fala.

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