segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Feliz dia 19 de Agosto!

           Ah o bom e velho 19 de agosto! É o dia que fico pensando que a vida é uma sequência de coincidencias imbecis. Eu, assim como o marido da Rochelle, poderia ter dois empregos. Vamos aos fatos.
     Sou formada em História naquela nave louca que é a Universidade Federal de Ouro Preto. Um curso muito bacana onde pude aprender a beber e jogar truco, e onde ouvi falar pela primeira vez de um tal de Marc Bloch , que a gente ama mais que feijão com arroz. O cara era bom mesmo. Diz a lenda que conseguiu escrever quase um livro inteiro dentro da prisão nazista, sem acesso a referências bibliográficas quaisquer e acertou todas, só de memória! Acredito que esse fato afetou tanto o orgulho de classe dos historiadores que vários professores ao dar aula ficavam fazendo citações em cima de citações e não explicavam porra nenhuma. E eu ficava lá na ultima carteira, escrevendo alguns dos contos que você lê neste blog, por que, afinal de contas, eu sempre tive as minhas prioridades.
(Marc Bloch de ladinho. Tão amado que até o John  Lennon  copiaria  seu óculos style anos mais tarde)
        Bloch não terminou o livro. O exercito nazista o matou antes do fim. Mas, deixou boa parte já pronta, o que nos fazia pensar, em época de provas, na ineficiência dos serviços públicos quando se precisa deles, mesmo no primeiro mundo. Se o exercito alemão fosse de fato eficiente  teria matado o Bloch antes de ele ter escrito tudo aquilo! (essa piada é clichê de nove entre dez alunos do primeiro periodo.)
        A maior diversão de um historiador é destruir as teses de seus colegas.  O pau quebrava em alguns seminários. Mas tudo na base do "Caro colega está equivocado nesta sua colocação...". Aliás, desacreditar tese do coleguinha é coisa que aprendemos  desde o principio, então já no primeiro ano víamos alguns alunos ávidos em desbancar os professores, o que as vezes tornava as aulas parecidas com um torneio de repentistas nordestinos da praça da Sé.        





           ( No primeiro período me disseram que os historiadores davam voz aos mortos. Achei forte!)



         De qualquer forma sempre achei fantástico  o que o Bloch dizia sobre como a História deveria ser feita numa linguagem que alcançasse a todos. Não há sentido nenhum em tanto estudo se não for acessível. Mas, obviamente não é bem assim que acotece.
         Dói no coração do historiador ver o 1822 virar best seller. V um ex colega espumar de odio quando eu disse que era válido o esforço do Eduardo Bueno em disseminar o interesse histórico. E ele mal tinha começado o curso! "Eduardo Bueno é jornalista!Não estudou o bastante!". E no final das contas muita coisa realmente não tem muito sentido, mas se os historiadores (que estudam bastante) pensassem mais vezes fora da caixinha talvez existissem mais obras melhor embasadas e com um linguagem mais acessível a maioria da população, gerando mais interesse! Mas a maioria dos acadêmicos passa seus dias procurando palavras difíceis nos dicionários, que possam dificultar a leitura de suas teorias, para que ao seu redor digam que sua escrita é complexa (um puta elogio!!).
Mary del Priore: Inteligencia e Loosho.  É a Glória Calil  da historiografia!











    Assim como a roupa do rei, só os inteligentes conseguem ver esse tipo de coisa, como a Mary del Priore, que é puro loosho, glamour e competência, escreve com a maestria de um romancista e  embasamento teórico  para nenhum primeiro anista empolado botar defeito!
       Enfim, uma vez formada, diplominha de federal na mão, (orgulho da mamãe que fala isso pra todo mundo) olhei pra vida e fui finalmente fazer teatro. E no teatro fiz uma descoberta encantadora! Meu curso de história me servia finalmente pra alguma coisa. Construir um personagem é muito melhor quando se entende contextos, a arte é toda contexto e toda pensamento humano, beijo Zé Arnaldo!
       Gosto das artes cênicas, do teatro mesmo. Aquela coisa sofrida de se fazer, mas linda de se ver. E toda vez que falo pra alguém que estudo teatro elas me pedem pra lembrar delas no arquivo confidencial do Faustão, como se o destino de todos os atores fosse a Globo. 



Fui no arquivo confidencial e me lembrei de você.
    Mas sempre que digo que acho TV um porre as pessoas me olham como se eu fosse de outro planeta (afinal de contas, de que serve ser atriz se não for para sair em capa de revista de fofoca com um affair misterioso em algum barzinho badalado do Rio de Janeiro?) 
    Há  também o clube daqueles que acham uma judiação uma moça que estudou tanto jogar tudo pro alto pra fazer teatro. E há também a galera que pergunta se eu pretendo continuar estudando e quando falo que já estudo,  reiteram "Mas estudar que eu digo é estudar, mesmo!" e eu fico pensando o que  podem vir a ser  as horas que passo debruçada no Stanislaviski ...
        Atores não usam boina e cachecol. Por que somos pobres, muito pobres. Às vezes, quando estamos totalmente sem patrocínio, usamos sacos de estopa. Para exercitar  humildade! Afinal de contas, se o patrocínio fosse equivalente ao nosso ego, produziríamos um musical da Broadway por semana.
Malhação ou remake de novela mexicana no SBT...Eis  questão?

        
            O que mais me surpreende de qualquer forma é o fato do dia do ator cair no mesmo dia do historiador. E eu fico me perguntando quem deve ser a pessoa que atribui os dias às profissões no calendário. E como ela sabia tanto da minha vida que colocou o dia das minhas duas profissões no mesmo 19 de agosto. Se as pessoas distribuíssem presentes para os profissionais conforme seus dias eu com certeza ganharia um só de todo mundo, sob a justificativa de "Comprei um melhorzinho já que é no mesmo dia, né!" . 

Enfim. Acredito que acabarei fazendo mestrado um dia desses. Misturando a parte mais clichê das duas áreas: Brecht na pós modernidade. E serei eternamente blasé.




Ps: queria mandar um beijo pro Marco Antonio Silveira e pra Isis de Castro em cujas aulas nunca escrevi nada. Prestava atenção em tudinho!!!E pro Zé Arnaldo Coelho, que me deu a honra de ir assistir uma peça minha e não obstante contar pra galera do Iphan que eu era "surpreendentemente boa atriz com uma voz absurda!" Seus lindos!

2 comentários:

Unknown disse...

Engraçado como as pessoas acabam indo por caminhos tortos, mas sempre seguindo algo em si que descobrem muito cedo. E as coisas todas por que passaram acabam compondo o todo do resultado final; meu caminho também foi torto, e ainda é - minha caminhada ainda não acabou -, mas norteado por um ponto distante, porém muito visível; assim como o da maioria das pessoas.

Lígia disse...

Vou lá no arquivo confidencial falar de você, hein!!!
Brincaderinha!!!

Bom 19 de agosto (atrasado) pra você!!!