domingo, 26 de junho de 2011

Quando nasce uma criança....

         "Não sei... quando nasce uma criança não nasce apenas ela própria, mas uma serie de sentimentos e rearranjos novos no mundo, que deve tratar de se expandir para comportar mais uma pessoa. ..." ela concluiu ao olhar para o bebê que dormia e questionou-se como afinal de contas  o tamanho do mundo era sempre o mesmo se sempre havia muito mais gente nascendo do que gente morrendo. E isso constatava por que a avó fora parteira e saia o tempo todo para acudir mulheres pelos vales, dando a luz como coelhas, enquanto os cemitérios repousavam na paz de sua sepulturas intocadas, não sendo incomodados pela novidade de um defunto fresco já há muito tempo.
           Viu irmã engordar os nove meses não sem alguma repulsa, indo diversas vezes olhar-se no espelho e dar graças a Deus pela silhueta que ainda lhe pertencia "Mundo não é lugar de criança..." ela ainda murmurou mediante tamanha felicidade do cunhado, mas que coisa era aquela agora, aquele tipo de desejo, aquele de por mais gente no mundo nunca lhe parecera certo afinal de contas. A vontade de parir era capricho de gente egoísta, pensando na própria satisfação que teria em fazê-lo e não nas consequências daquilo para o pobre que nascia, afinal de contas ela mesma, dando-se conta daquilo, teria fugido se pudesse, mas não houve como e lá estava ela, lecionando, comendo, andando e vivendo, caminhando, respirando, amando, odiando e mesmo sem querer a cada dia morrendo, por que a sina das gentes era essa mesma que não outra.                                             Colocava-se os pobrezinhos no mundo sem consulta-los a vontade de viver, impelia-os a vida os pais, mesmo sabendo aquilo que viria cerca-los em virtude disso. Por pura compaixão dos próprios filhos não nascidos, ela que ainda era moça,  achou por bem dar um basta aquela crueldade e da sua parte pensou "são mais felizes nos planos das ideias." enquanto,  com o calor abafado do Rio de Janeiro ao seu encalço, ajudava a irmã a locomover-se pela casa, a tricotar casaquinhos e pensar em nomes ou calcular datas.
            Eis que veio então um dia e depois veio a  noite e veio com ela finalmente o rebento, resolvido que era  hora que enfrentar sua sina e cumprir sua obrigação, que ali naquele momento era nascer. E cumpriu-a muito bem , por que nasceu sem maiores problemas. 
E quando finalmente o viu, achou-o gracioso no seu sono, tomou-o nos braços e pensou no mundo, como era grande mesmo para caber todo mundo, devia haver algo que se movia para expandi-lo quando se nascia alguém. O menino abriu os olhos castanhos e como se adivinhasse seu pensamento disse-lhe rindo "Egoismo seria  não me dar a chance de nascer e de tentar ajudar a  fazer esse mundo fedido ai de fora virar uma coisa melhor!" e voltou a dormir. Ela riu-se "Essas crianças de hoje já nascem respondonas!" colocou-o de volta no berço e resolveu que já estava na hora de dar sua contribuição para o mundo. Foi correndo aceitar o convite do vizinho engenheiro.

2 comentários:

Natália disse...

Mudando de estilo, mas o desfecho manteve a sua marca!

Lígia Santos disse...

Que gracinha!!!