sábado, 30 de junho de 2012

O Cão e a Trepadeira: Um caso de genética.....

         É tudo predisposição genética, eu acho, acho mesmo. Tem gente que nasce com o gene da trepadeira no corpo, não sossega piru nem piriquita em nenhum lugar do mundo, parece que tem coceira. O que eu imagino que deixe a pessoa em constante fadiga e larica, vai disposição para companhar o ritmo de certos hormônios! 
O cara pode estar com a menina mais linda ao seu lado, mas se passar alguma outra ele vai atras, é como se a trepadeirinha fosse dando ramos e esses ramos fossem tentando alcançar todas as perspectivas de sexo possiveis no universo. 
Mulher também tem dessas. Passou homem do lado, pode ser o homem do saco, a sujeita enlouquece, arrepia os pelos do braço e se não pega o sujeito, sufoca e morre devagar! Ainda bem que nem todo mundo é assim, seria um caos no mundo, todo mundo meio enroscado num galho de trepadeira,  tentando se agarrar em outro e soltar do primeiro, já pensou? ( na verdade já pensaram nisso sim e fizeram um até  filme:  Calígula!)
        Eu antigamente achava isso feio, agora acho que cada um faz o que quer e depois que passei a achar isso eu fiquei até mais bonita, que um monte de merda saiu da minha cabeça e minha alma começou a feder menos. Que a gente sabe que o ser humano é fedido por dentro,  dai tem que ficar dando banho no espirito, que é se libertar dessas coisas pequenas, dar fim em pensamento mofado, matar memória ruim, enfim , ir tomando banho por dentro como tem de ser. Dai, cê fica mais limpo e fedendo menos, as pessoas se aglomeram pelo cheiro do espirito do alheio. Gente de alma de fedorenta só atrai seus semelhantes, junto com as ideias de merda me livrei de um monte de gente babaca também.
           E como ia dizendo, é tudo predisposição genética mesmo. Tem o gene do cocker também, que é fiel, que cê tá ali comendo, ele encosta a cabeça no seu joelho esperando comida na boca, que tá frio ele fica em casa, tá calor...Ele também fica em casa, enfim, tem homem que nasce assim. O problema é conciliar o tédio com a vontade de comer, digo a fome com a vontade de sair, enfim, isso ai que vocês entenderam. Por que da trepadeira cê gama a novidade que ela  traz e o cocker enfim, é sempre o mesmo bom e velho cocker. Você sabe que vai chegar em casa e o cão estará lá, com orelhas tão fartas e o rabo entre as pernas. 
          Mas tenho esperança que não demora muito e ciência mistura os dois e teremos um cocker- trepadeira que vem com todas as inovações de fábrica que a trepadeira sempre traz e com a fidelidade que só um cocker pode oferecer. Seremos mais felizes assim, eu acho. 
       Um brinde a trepadeira que faz feliz a gente solteira desse pais com inovações incríveis dignas de uma loja Polishop.. Um brinde ao cocker que dorme de conchinha  sem se importar com o braço dormente que isso causa em cinco minutos! Um brinde ao dia que juntarem tudo isso no mesmo exemplar!Sem crise, sem crise...

sábado, 23 de junho de 2012

Sobre o Rio de Janeiro : Garota de Ipanema

Quando perguntei pro meu pai quem era mais bonita entre duas amigas minhas me arrependi amargamente. Por que a ele, enquanto sujeito profundo, filosófico, sociológico e pensante que é, não bastou dizer que uma ou a outra, ou as duas. Mas passou horas divagando sobre a beleza e sua constituição não apenas física, mas também abstrata, algo que provém do interior do ser humano e blá blá blá (boring). No fundo essa é mesmo uma questão bem complicada, por que levando-se em conta o padrão de beleza absurdamente dificil de ser alcançado hoje em dia conclui-se que a maioria ama mesmo feio, mesmo que o feio ainda assim lhe pareça feio e que nem amor nem álcool possam fazer algo positivo em virtude disso.
Até por que, na cabeça de cada brasileiro a garota de Ipanema tem uma cara diferente. E todo mundo se sente um pouco musa do Tom Jobim quando anda por aquele calçadão em direção a areia, mesmo que esteja acima do peso, celulites saltando as pernas e o cabelo com um palmo de raiz de outra cor. Joga-se o cabelo ao vento na luz dourada da tarde se mergulha no mar com vontade. Toma-se um capote poético, levanta-se, arruma-se o biquíni. E volta a ser bossa nova. 

sexta-feira, 22 de junho de 2012

O Sexto Mandamento


     " Eu, porém, vos digo: todo aquele que olha para uma mulher com desejo libidinoso já cometeu adultério com ela em seu coração (Mt 5,27-28)." Mas jamais se levou em conta o desejo das mulheres....



         Acordou incomodada, como quem veste roupa apertada e não consegue se livrar. Sabia que não era certo. E o certo era sempre o certo a se fazer, ou o mundo não seria divido entre certo e errado, afinal! Ainda caminhava pela rua na manhã gelada, os portões do grupo escolar recém abertos, sempre uma das primeiras a chegar. O sinal bateu e a fila por ordem de tamanho entrou na sala de aula, por último ia esguio meninote,  não tinha mais que sete anos a criança. Ao observá-lo ela respirou fundo, chacoalhando a cabeça como quem espanta uma mosca, a mosca dos pensamentos indevidos.     
     "Sente-se lá no fundo hoje..." ela disse ao aluno pouco depois da hora do recreio. Sim, por que o menino fazia questão da primeira carteira, bem em frente sua mesa, o que não seria incômodo nenhum, não tivesse a criança aqueles malditos olhos, sedentos de conhecimento. Ele queria aprender, o pobre menino, seria um orgulho fosse outra criança que não aquela, que carregava na face os olhos imorais que  perseguiam-na em seus sonhos tão recorrentes, a genética era mesmo ma coisa maldita em certos casos. 
       " Troque de lugar com o José Luiz e sente-se lá no fundo...". O menino levantou-se resignado, naquela época as crianças obedeciam as professoras, mas o interior dele reclamava " Não é justo, eu não fiz nada..." e não passava mesmo de uma maldade muito grande com a criança.
         A tarde transcorrera em calmaria, como as outras, corrigindo os testes de aritmética. As notas decaíram em avalanche e em breve a mãe do menino viria falar-lhe, com a cara muito pálida e as mãos muito brancas, a voz tão baixa, sempre que falava parecia que breve se derramaria em pranto, oh paciência, ela preocupava-se com o desempenho do filho. E ela, Catarina, teria de arrumar uma forma de explicar àquela mãe que nos últimos dias não pudera dar atenção maior ao menino por que havia algo de perturbador nos olhos da criança que não deixavam-na aproximar-se sem lembrar-se das bobagens absurdas que andava por sonhar nos últimos tempos. Quando deu por si eram seis horas. E a inquietação só fez aumentar.


(continua...)

terça-feira, 19 de junho de 2012

Versos sem rimas bonitas sobre a noite insone que passei pensando sobre a vida.....

Para minha querida A. que Deus a conserve em feliz benção e ignorancia, e que seus pensamentos jamais se voltem contra si.

O dia em que matei a ética
enterrei junto os meus sonhos
de brinde em mesma cova  profunda
assim como alguns cacos de ilusões partidas
perdidas na memória
em reduto do passado
que já ia moribundo
agora de fato ultrapassado
que a verdade liberta talvez seja certo
mas ignorância é confortavel benção
e o que é abstrato
entenda-se por certo
não foi feito pra virar fato
pois fato sendo não satisfaz
gente que pensa demais
seria eu infeliz
fosse apenas inocente atriz
nesse teatro de interesses vis
que a vida do ser humano condiz?
Pelo menos descobri o que quis
a bondade por fim me deixa feliz
não é encosto
não é cômodo
apenas é assim
parte de mim
E sigo agora
Cada dia menos iludida
Cada dia menos perdida
Carregando certezas que por hora não me servem de nada
nada
nada 
nada
nada
(ecoa m assim na cabeça a palavra e o vazio. E me repito:Eu pago a lingua e meus pecados, pelos julgamentos que fiz a tantas moças no passado...)

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Evil....

Eles se encontraram na rua:
Ele: E ai quanto tempo heim?
Ela: Pois é, e ai que me conta de novo?
Ele : Ah velho monte de coisa..
Ela reparou no macacão: Trocou de emprego?
Ele: Troquei de emprego, terminei com a namorada...
Ela não consegue evitar aquele olhar que a bruxa malvada deve ter feito quando viu a Branca de Neve finalmente morder a maçã envenenada.  Chapeuzinho perguntaria por que olhos tão grandes. E o lobo mau teria inveja do apetite:
- Ah, poxa que chato...Era gente boa sua namorada.
Ele:  Ah mas não tava rolando mais....
O veneno começa escorrer invisível pelos cantos da boca salivante:
Ela: Então tá solteiro agora?
Ele: Pois é já tem uns três meses.
Ela: Hum...preciso ir agora...a gente se vê por ai. Fica bem!
Ela vai embora e ele em desconfia que ali naquela cabeça a armadilha que irá prende-lo é maquinalmente construída. Há mais maldade e apetite na cabeça das mulheres do que pode suspeitar a vã filosofia masculina....

terça-feira, 12 de junho de 2012

FRED

                            

                                      (SOM NA CAIXA QUE HOJE É DIA DE PIEGUICE!)  



           Ela estava insegura. Era véspera da grande viagem  e tudo parecia tão novo que ela não conseguia mesurar direito o que lhe esperava. Por isso o medo na verdade era o mais estranho que tivera na vida, indefinido. Fazia calor por aqueles dias e era terrível ver o quarto desmontado, as coisas embaladas, oh meu Deus, que era tudo aquilo afinal?
        Ele estava bem triste. Sabia no fundo que a distância seria muito maior pra ele, pois se já havia a distância da idade, dos amigos (ela sempre na frente, como se nunca pudesse alcançá-la, quantas vezes não havia dito isso e quantas vezes ela não sorria 'Você é bobo, não tem nada demais...' ) agora haveria também a distância física, era mais do que ele conseguiria suportar talvez, no fundo ele temia, mas não dizia, ela precisava de toda força agora "Eu tenho um presente pra você..." ele disse. 
       Há muito tempo que não se via coisa assim, desses amorecos bonitinhos, de namoro na pracinha, que até as professoras observavam e deixavam adultos com saudade do passado. Na falta de lugar, namoravam na linha do trem ás vezes. Tinha música também, mas ninguém ouvia. Só eles.
      "Eu vou te dar o Fred..." e tirou da bolsa um amarrotado tigre de pelúcia, gasto pelo tempo "Eu tenho ele desde que me conheço por gente (e ai não iam mais que dezessete anos...) e você sabe, que sempre fui um cara meio sozinho. Eu, quando tenho medo, tenho duvida, troco uma idéia com o Fred... é uma bobagem, mas me ajuda, sei lá, levo o Fred escondido na mochila até pra fazer prova...!" eles riram "Se o povo do colégio souber disso vão me zoar pro resto da vida... Mas enfim, todas as vezes que senti solidão, medo ou insegurança eu abracei o Fred. E deu certo. Você vai estar muito longe, e eu não vou poder te abraçar, então quando nada der certo você abraça o Fred, é meu jeito de estar lá...." e ela não quis aceitar por que era algo deveras precioso, mas como fazer? O Fred foi na mala, junto com esperanças e sonhos de um universo totalmente novo. Ele foi com ela para todos os cantos. O namoradinho  virou poeira na vida dela, mas o Fred continuava ali. A solidão vinha, o medo vinha, a insegurança vinha,  e ninguém sabia que ela abraçava o Fred todo dia, por que sabia que não havia ainda visto nada de tão verdadeiro na vida quanto aquele presente que ganhara no passado.
      A vida passa e nos tornamos pessoas ruins talvez e ela bem sabia, não guardava mais ilusões. Todavia, olhando para o Fred ela amava o presente pelo que representava, pelo que fora um dia e pelos planos que fizera tão menina ainda. Ria as vezes sozinha "bombons e rosas ainda tem de comer muito arroz com feijão pra superar esse presente...talvez nem aquele que deu saiba a dimensão disso." Olhar o Fred era dizer 'Eu posso fazer melhor...' e estava fazendo. Sem sombra de dúvidas.


segunda-feira, 11 de junho de 2012

A Outra -Final

Dia 55 
Chamei uma turma budista para vir aqui. E eles disseram que a energia estava carregada, como que de discórdia,  e eu pensei "Grande Novidade!". E no final das contas, a casa ficou cheia de incenso. A noite eu não dormia por que não sei quem fazia mais barulho se eram as doidas dessas assombrações limpando banheiro ou eu espirrando por causa da rinite!
Eu estava tão cansada que chorava de ódio no meu quarto, quanto tempo sem dormir! Peguei minha coberta e fui para o corredor, sorte que não tava tão frio. Então o Marilia Gabriela abriu a porta "Ow vizinha, porrrr que essas lágrimaxxx no corredorrr!" e eu chorando que nem criança contei sobre a rinite, as vinte mil noites sem dormir direito por causa do barulho. Ele me abraçou "Pobrezinha da paulixxxxxta!' e eu nem me importei que fosse o Marilia Gabriela me consolando por que eu queria mesmo era colo pra chorar. E dormir, ora essa, não era meu estresse todo derivado da falta de sono? Ele me levou pra dentro do apê dele, simples, televisão e video games de ultima geração mas mobília meio parca. Nem reparei. Ele arrumou a cama eu deitei rezando a Deus pra não ser atacada ( o que a gente não faz quando tá de TPM?) e ele, pasme: me trouxe um toddynho me deu boa noite e dormiu na sala. Não tentou nada. Nada. Na hora achei coisa mais linda. Depois me achei baranga, claro, poxa vida, o cara só não pega o sapo por que não sabe qual é o macho e nem veio dar um pouquinho em cima de mim? Mas eu estava tão cansada que dormi profundamente e essas questões só me assombraram depois. Por que assim que me levantei de manhã fui procurar duas médiuns do centro espirita. Elas vêm amanhã cedo. Por enquanto vou ficando aqui, na casa do Marilia. Que por sinal se chama Carlos Eduardo. Sim ele tem um nome, e não gosta, obviamente todo mundo chama ele de Kadu. Menos eu.Odeio apelidos.


Dia 58
 Foi um rebu. As médiuns chegaram sentaram na mesa, demos as mãos ao melhor estilo "Espíritos Zombeteiros" do Chaves! E ai começou a rolar o escândalo! Luz piscando, janela batendo, um horror. Eu, que já ia acostumada com a loucura das duas nem me importei mais, achei bizarro, assombração é bicho tão sem criatividade, desde que o mundo é mundo usa os mesmos truques pra botar medo na gente Eu hein. Sem contar que na raiva que eu tava, queria mais é que elas explodissem! E a medium loira com a cara da Cristiane Torloni dizia "Acalmem-se...Vocês tem que ir para a luz...Para a luz...Para a luz...!" mas não adiantou nada por que as duas vieram do além pra quebrar pau, uma baixaria!
Então dado certo momento cada uma das assombrações encorporou em uma médium. Eu vou reproduzir o que aconteceu com a maior riqueza de detalhes possível,se bem que, se fosse alguem me contando eu não acredtiaria. Parecia uma mistura de Programa da Márcia com Sexto Sentido:
PATROA: Essa governanta de uma figa veio dar palpite na minha casa! Na MINHA  casa! Como se eu não fose dona de casa boa o suficiente!
GOVERNANTA (com sotaque alemão) Esse mulher nunca foi dono de nenhum casa nessa vida e nem nesse morte, por que se fosse ele ia saber que quem cuida do limpeza de uma casa é o governanta!O governanta, eu, fraunlein!Eu, eu, eeeeu!
PATROA: Você não coloca mais a mão na minha casa!
GOVERNANTA: Eu não vou deixar esta lugar acumular o sujeira, não vou!(e xingou alguma coisa em alemão que eu não posso reproduzir aqui por que não entendo alemão!)
E as duas começaram a se engalfinhar como malucas pelo chão da sala, uma palhaçada, eu só assistindo, por que não tinha nada quebravel por perto. Sem contar que nunca na minha vida acho que vá ver de novo barraco de assombração, quase tirei uma foto! Ai quando vi que não dava mais jeito quem gritou fui eu "CHEGA!" e as duas ficaram paradas me olhando. Eu continuei:
-As duas sentadas, agora, que é minha vez de falar!Ah desaforo...A casa não é mais sua, EU moro aqui entendeu?
GOVERNANTA: Hahahaha bem feito!
EU: E você nunca foi dona de nada aqui!
E ela baixou a cabeça rapidinho. Eu continuei: Olha vocês morreram, caramba! Não tem nada melhor que fazer do que faxina não?
PATROA(suspirando): Mas é que no céu já é tudo tão limpinho e tão arrumadinho...
GOVERNANTA:Não tem nada pra fazer...
EU: E isso lá é problema meu que ainda tô viva? Bora parar com essa palhaçada as duas!"
Elas emburraram como duas crianças e responderam um uníssono "NÃO!" e eu suspirei resignada:
EU:Mas não tem outro lugar que vocês possam limpar, me deixem em paz poxa vida!
PATROA (olhar suplicante do gato de Botas): Nós até tentamos...mas esse apartamento é irresistível. A bagunça que você faz aqui atrai a gente feito imã...Esse é de longe o lugar mais bagunçado do Rio de Janeiro....
EU(pensando alto):Bem que o Renato já me disse isso uma vez...Será que quando ele morrer vai ficar neurótico assim como vocês?
PATROA (Continuando): Aqui é um lugar onde serei mais útil...
GOVERNANTA: Você na verdade é uma inutil, não vê? Precisou contratar meus serviços pra cuidar de sua casa!
Antevendo outra discussão interrompi:
EU: Que seja, que seja! Mas vamos tentar conviver bem então. Por que não fazemos o seguinte. Vocês param de organizar minha casa de madrugada!...
GOVERNANTA:Oh céus, de madrugada?
EU( com cara de Maria do Bairro): Há semanas que não venho dormindo direito por conta do barulho, um horror!Não é justo comigo, logo comigo, que faço tanta bagunça justamente pra que voces possam limpar e sentirem-se felizes!
PATROA: Oh, mas coitadinha!Nós nem imaginávamos!
GOVERNANTA: É  que no céu o horário é ao contrario!
EU: Então tratem de fazer hora extra se quiserem ficar. Do contrário vou começar a chamar o pastor da Universal toda semana pra gritar sai capeta no ouvido de vocês!
PATROA: Ah não pelo amor de Deus, aquilo é demais!
GOVERNANTA: Não, não faça isso....Estou até hoje com aqueles gritos no cabeça!
EU: Então pra evitar brigas na segunda, na quarta e na sexta feira você Patroa vem limpar. Terças , quintas e sábados vem você,Governanta. E no domingo ninguém vem há menos que eu chame ou que eu dê festa no sábado a noite...Entendido?
E elas foram embora felizes até. Quando as duas mediuns acordaram do transe estavam descabeladas e machucadas da briga e eu tive que contar tudo pra elas, que se assustaram com a intensidade da coisa....Enfim, reina agora a expectativa. Vamos ver como as coisas serão daqui pra frente. Espero que organizadas e silenciosas.Espero...

Dia 62
Poxa mas aqui reina a paz, a limpeza e a organização. E boas noites de sono.Enfim.


Dia 63
Fui agradecer o Marilia Gabriela/ Carlos Eduardo pelo abrigo na hora do desespero. Prometo que nunca mais chamo ele de burro. Sabe que de uns tempos pra cá não tem tido mais piriguete no apê dele? Nós fomos tomar açai de tarde e a explicação foi a seguinte "Essax meninaxx ai são exxquisitaxxx entendeu, tipo assim, o papo, eu currrrrto um papo cabeça, maixxx inteligente, elaxxxx não acompanham o raciocinio dai meio que rola uma preguiça, cê acredita?  e eu acreditei. Mulher é bicho idiota, acreditei e achei fofinho. Acho que daqui pra frente meus fantasmas serão outros...Quando contei isso pro Renato ele riu (pra variar), fingiu que tirou uma listinha do bolso "Bem, até aqui onde me consta essa é a oitava vez que você encontra o grande amor da sua vida, só esse ano!Um recorde, parabéns!" E eu quis matá-lo(por que ele estava certo!)  mas não matei por que estava comendo um pedaço da costela do Outback, então estava num dia bom. Fique de sair com o Carlos Eduardo sexta a noite. Eu pago minha língua nessa minha vida, ô se pago...
Dia 70
Dona Hermengarda esses dias bateu ai, quis saber que fim havia dado a historia das assombrações. De certo achou estanho o fato de eu não ter me mudado como todos os outros inquilinos. Contei a ela que agora elas trabalhavam durante o dia, eu até saia da casa pra elas ficarem mais a vontade. "A gente vive quase cem anos e acha que já viu tudo...." ela resmungou. E depois completou " Você foi esperta menina, meus parabéns!" . É talvez eu tenha sido mesmo. Domesticar assombrações... A gente vê por aqui!

sexta-feira, 8 de junho de 2012

How I Met Your Grandfather

Vovó tricotava no sofá quando começou a tocar "Eu Quero Tchu Eu Quero Tcha" na Sessão Nostalgia do rádio. Ela parou o tricô e ficou muito tempo com o olhar perdido. Eu sempre achei bonita essas histórias da vovó "Essa música me lembra seu avô..." Minha avó é da época em que o Neymar ainda jogava futebol e não  fazia reportagens sobre cabelo, maquiagem e tendências pro verão no Fantástico. " Eram bons tempos aqueles..." ela suspirou e depois continuou tricotando, enquanto começou a nos contar aquela história entre murmúrios e suspiros saudosos. " Estávamos numa balada eu e mais duas amigas, a Marininha e a Juliana. Marininha, que Deus a tenha, morreu de cirrose, coitada...Enfim, Marininha na época namorava o Jorjão, que era instrutor de academia. Ele era tão invocado..." Vovó ria e eu também dessa forma de falar tão antiquada que ela usava. Ela continuou " Jorjão foi pegar mais vodca com energético quando um sujeito se proximou de nós três, xavecando a Marininha. Mas a Marininha avisou que tinha namorado. O sujeito não acreditou. O Jorjão era bravo mesmo, ciumento,  cada vez que alguém chegava para conversar com a Marininha ele armava escândalo e a gente era expulso da balada. Por isso a gente tinha verdadeiro pavor de alguém chegar na Marininha quando o Jorjão não estava perto.O rapaz todavia insistia 'Eu tenho namorado!", ela dizia e ele não acreditava. 'Pelo amor de Deus, ela tem namorado e é briguento, daqui a pouco ele volta e bate em você..." eu ainda alertei o rapaz e nada dele me escutar. Quando avistei o Jorjao voltando comecei a temer pelo nossa noite de sábado. ' O namorado dela vem ai', eu avisei baixinho, mas o cara não se mancou. Jorjão foi chegando, chegando e chegando, meu desespero aumentando, aumentando, aumentando... Quando Jorjão já ia fechando a cara eu agarrei o rapaz e dei um baita de um beijo na boca dele!" Vovó ria de si mesma."E então vovó, o que aconteceu?" " Bem, o Jorjão acreditou que eu estava com o rapaz e não fez nada!" "Poxa vida, que bonito vovó...Então foi assim que a senhora conheceu o vovô?" "Não! Seu avô conheci depois quando fomos na mesma excursão ser plateia no Caldeirão do Huck!" "Mas então por que essa música te lembra o vovô?" "Eu disse isso? Imagine, eu me lembro do seu avô quando escuto "Assim você mata o papai!" e eu me calei em respeito a senilidade e a poesia da história de vida de Vovó.



domingo, 3 de junho de 2012

A Outra (parte 4)

Dia 40:
  Chamei um padre. Ele disse umas coisas em latim, jogou água benta. Ao toque da água benta, as luzes piscaram, senti que aquilo poderia dar certo. Latim é a língua oficial do além até onde eu sei, podia ser que agora elas finalmente compreendessem. 
  Padre benzeu, rezou e no final tocou meu ombro "Fique em paz, minha filha, o que quer que estivesse lhe atormentando já foi embora..." e finalmente senti que alguma paz pairou sobre o ambiente. Acho que elas finalmente foram embora. Veremos.
Dia 43:

  As pessoas ficam abismadas quando eu conto sobre minha casa, me perguntam se eu não tenho medo de fantasma. Não sei. Na verdade sou a pessoa mais maricas desse mundo e provavelmente do outro, mas se tenho um medo maior que de assombração é de perder a bocada que é esse aluguel. 
  Hoje o elevador resolveu funcionar e eu estava lá quando dona Hermengarda entrou. A velha ainda me perguntou sobre como estava a situação. Eu contei que já tinha chamado padre e pastor e não tinha dado certo. "Eu avisei menina!" ela riu. Enfim, enfim...


 Dia 50:
  Renato chegou de Macaé e deu um pulo aqui pra ver qual era. O apê bagunçadinho do meu jeito "Cade aquelas assombrações abençoadas?" ele ainda teve a coragem de perguntar  e eu quase bati nele "Não convida , não sente falta, que elas voltam! Finalmente ando tendo sossego pra dormir, tá ótimo..." e era bem verdade mesmo, estava ótimo.   Sobrou um dinheirinho esse mês e fomos ao Outback. Comemos como dois mendigos esfomeados. 
  Depois, de barriga pra cima no sofá, eu bem tentei dormir enquanto ouvia a cama do Marilia Gabriela ranger no apartamento ao lado, onde a piriguete do dia,  quase tão escandalosa quanto o pastor que teve aqui semana passada, mas para o mal,  gritava "Tá quase, não pára, tá quase, tá quaaaaaaase fazendo gol!!!" e fiquei me perguntando quantos pastores seriam necessários para exorcizar aquele capeta em forma de biscate!
  De estomago e saco cheios subi quatro lances de escada e me sentei na laje do prédio. Acendi um cigarro e fiquei pensando na vida. Qual não foi minha surpresa, o Marilia Gabriela aparecer por lá algum tempo depois "Você porrrr aqui, meu amorrr!" e eu não acreditei na minha pouca sorte "Eu é que pergunto. Você por aqui?" ele riu , sem graça " Sempre venho aqui quando elaxxx vão embora....Sacumé, né, pensar na vida..." eu tomei um susto "Porra, você faz isso?" "Isso o que?" "Pensar na sua vida!!" "Mas é claro, tenho só a minha vida pra pensar, vou pensar na dos outros?" Toma cheirosa!!! Quem ia imaginar o Marilia Gabriela dando lição de moral! Ainda fiquei algum tempo ali  ouvindo ele contar das proezas dele com mulheres e do dia que flertou com a Flavia Alessandra no semáforo "Você é um figura, menino do Rio!" eu ainda disse. É que a costela do Outback faz meu dia tão feliz que começo a ver as pessoas melhores do que elas são. Ele riu. E me disse " Não me chama  de menino do Rio. Por que não sou o único cara que mora no Rio de Janeiro, dai, se um dia você me chamar e tiver mais de um carioca na conversa, vai dar confusão..." e eu pensei que nem costela do Outback consertava aquele vazio que ele tinha no lugar onde devia existir o cérebro. Apesar disso, ele é um amor e quando eu contei para ele a história da assombração no meu apê ele se ofereceu "Quando tiver com medo dorme lá em casa...." Sorte que eu não tenho taaanto medo assim. De qualquer forma, bom fazer amigos. Mesmo que eles sejam portas! ( é, eu não sou uma boa pessoa.)
 Voltei pra casa e minha sala estava no mais perfeito estado de ordem e arrumação. Ai não né. Ai não dá. Amanhã é pai de santo, se não der certo tem monge budista e medium do centro espirta. Essas duas vão embora nem que eu tenha que chamar os ghostbusters!