segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Adorável Vida de Catarina - O Moço Valente da Vila Olímpia

     Um dia desses a Catarina conheceu um moço que era muito, mas muito valente. Pelo menos era o que o moço dizia e como Catarina não era uma moça das mais espertas, ela acreditava. Pelo menos a principio. Depois não. Por que tem certas coisas que nem uma mocinha do interior, daquelas de duas tranças e vestido de bolinha que a gente sempre vê perdida no terminal Tietê conseguiria acreditar.
     O moço valente disse que um dia queria defender a honra da donzela que estava ao seu lado, ameaçada por alguns facínoras sentados numa mesa próxima a sua num restaurante. Era uma mesa com muitos facínoras muito, mas muito malvados mesmo. Ele bateu em todos e a donzela bateu palmas! Catarina, por sua vez, achou que talvez não fossem tantos os facínoras e que talvez não fosse tão brutamontes e que talvez não houvesse nem donzela...
    O moço valente contou que um bandido veio roubar-lhe os pertences, mas ele tomou-lhe a faca e o fez fugir correndo. Catarina acha que o bandido era um flanelinha magrelo com um estilete escolar nas mãos.
     Valentia na verdade nem é algo assim tão grande ao seu ver.  Principalmente depois que conheceu pessoas do Acre, ser valente em São Paulo era mixaria. No mais, valentia não era coisa de se ficar mostrando assim pelas ruas, pegando qualquer sujeito pelo colarinho da camisa, assim do nada e dizendo "Olha só, eu sou valente!" por que não vai convencer ninguém disso, vão se convencer que você é louco na verdade . Sem contar que todas aquelas brigas deveriam ter resultado em cicatrizes, mas o moço tinha a pele tão lisinha quanto uma pin up de propaganda do creme Nívea dos anos 50. Nem um dente quebrado. Nem um arranhãozinho. Por mais que ele afirmasse (tão veemente quanto um vendedor da polishop) que ganhara todas as brigas, ele deveria pelo menos ostentar uma cicatriz de facada na barriga, um dente remendado ou um um roxo nas costelas. Logo,  o encantamento de Catarina pelo moço durou dezenove minutos e quarenta e sete segundos. Depois deixou o valente contando vantagem pro espelho. Ele provavelmente ainda não descobriu que ela saiu de lá...