domingo, 15 de julho de 2012

O Sexto Mandamento IV



Parte 4:Boas Moças,  Bons Conselhos

  

    Caminhou pelo quarto a noite toda, sem sono. Como, oh céus, aquele homem conseguira descobrir o que se passava com ela? O certo era que denunciara-se, mas como? 
      Ele apertara sua mão, agora conhecia-lhe também o toque, o que só serviria para aumentar-lhe o tormento, encheria seus sonhos de sinestesia, não era justo aquilo, oh meu pai! 
      Na aula seguinte não pode esconder sua perturbação. Sem jeito, quebrava o giz no quadro negro, derrubava o apagador, gaguejava. Enquanto o aluno, do fundo da sala, apenas observava. Divertido, como todo escroque, assistia-lhe o estabano com delícia. Era mesmo um pitéu aquela professorinha...   
       No final da aula deixou-lhe uma folha sobre a mesa "Fiz uma redação, professora. Sei que em breve teremos provas, quero tirar boa nota." e os outros alunos não viram nada demais em tal coisa, por que é normal um aluno se aplicar. 
       Ao ler a suposta redação, ruborizou. Depois guardou o papel dentro da bolsa, amassando-o com pressa. Caminhou para casa, passos largos, desesperados, em meio a tempestade que se formava.       A agonia já ultrapassava qualquer limite por ela tolerado e no dia seguinte, não pode se conter mais, e acabou abrindo-se com Elena, que tinha pensamentos modernos, porém sensatos, e haveria de ajudá-la a encontrar alguma solução.
          A amiga, também professora, caiu sentada ao ouvir a narrativa de Catarina: "Mas é um absurdo! Em meus três anos de magistério, nunca vi semelhante disparate!" E Catarina chorou "Eu sei! Mas não parece normal, tenho ganas de matá-lo quando o vejo, virá-lo do avesso! Só de lhe ver os olhos me ponho mais e mais perturbada. Isso só faz crescer e, mais ele se aproxima, mais quero não querer, todavia nunca quis tanto algo na minha vida como desejo isso... Chega a doer, Elena... Chega a doer."
     Elena abraçou a amiga, penalizada: "Reze, tome banhos frios... Eu sabia que essa ideia de ensinar adultos não ia dar certo.Veja, minha querida, o homem tem esposa,  se não tivesse, ainda que não fosse certo, poderia te apoiar, afinal de contas  nós moças temos que de alguma forma aliviar o fardo da nossa virgindade... Mas nesse caso... Não torne o mundo mais podre do que já é, Catarina!"
      E  Catarina resolveu que não deixaria de ser a boa moça que sempre fora por que um capricho da natureza impelia-a a tomar atitudes torpes contra as leis de Deus. Sentiu-se mais calma, até pôde dormir um pouco durante a tarde, cansada que estava das ultimas noites sem sossego, e sonhou com amenidades. 
     Aliviada, acordou no final da tarde para ir ao grupo escolar. Ao entrar em sala de aula rezou sem olhar para o fundo da classe, de olhos fechados implorou a Deus que aquela paz continuasse. Mas, ao abrir os olhos, lá estavam os dele, fixos nos dela. Não obstante teria de lhe dar uma resposta a proposta da carta. 

Um comentário: