sábado, 30 de julho de 2011

História não muito triste sobre a morte de um rapaz....

Eu poderia até ter sido menos emotiva, mas é que não conseguia, não dava, entende? Ai eu chorei como uma criança que perde o doce quando fiquei sabendo, a gente quando é mais nova e menos calejada sente dessas, mas acho que se fosse agora também sentiria a mesma coisa por que posso afirmar sem medo nenhum que nunca mais na vida vi algo semelhante ao que aconteceu conosco.
Mas ai eu fui embora, ele também seguiu o caminho dele e a vida foi seguindo. E então depois de algum tempo, nem foi tanto tempo, sei lá uns seis anos ou sete, ele morreu. Foi isso mesmo, ele morreu. Do nada assim, e na verdade é bem como um amigo da faculdade me dizia “Esse mundo tá perdido, hoje me dia quem nunca morreu tá morrendo”, veja bem a novidade! Ele morreu, olha só, morreu, novinho ainda que era, até o irmão veio da Europa só para se despedir, eu na verdade teria vindo até do quinto dos infernos, por que essa coisas são assim mesmo.
E quando fiquei sabendo foi aquela dor meio aguda e aquela sensação que não tem nome, mas fala por si mesma “Caramba, nunca mais vou ver de novo!” foi bem assim que aconteceu.
Já não existia mais nada há mais ou menos isso, uns seis ou sete anos, não me lembro e nem me mande lembrar a essa altura da vida, mas eu já tinha me divertido com alguns amiguinhos no meio do caminho e ele noivado com aquela milionária lá que dava tudo pra ele a começar pela bunda e terminar pelo dinheiro, sou mesmo uma velha depravada falando essas coisas.
Eu já ia pelos vinte e poucos anos naqueles tempos, e quando fiquei sabendo fiquei bastante inconformada com o destino, poxa vida, ele ter arrumado aquela ricaça para compensar as perdas que teve na vida tudo bem, afinal de contas mesmo a distância eu o mantinha por perto. Sabe, o que as pessoas não entendem é que tem coisas que não funcionam de forma tão ortodoxa. Você pode amar muito alguém e mesmo assim se conformar com a ausência dela, por que ás vezes as coisas não dão certo. Mas de qualquer forma você sabe que ela estará sempre por ali, e ainda que não haja mais nenhum contato físico, o que foi o meu caso, há sempre a impressão que a sua presença na vida do outro é constante e isso já se torna suficiente, mas morrer? Que merda era aquela agora de morrer?
Daí eu fiquei louca da vida e mandei tudo às favas, o velório chiquérrimo, e eu entrei lá chorando no meu canto, ainda estava de canto, mas a dor era tal dilacerante que a noivinha-de-sobrenome-importante estranhou deveras, por que até ali eu não duvidava, ela sabia que eu existia, mas não lembrava minha cara, num momento daquele ninguém lembra a cara de ninguém. E tamanha era a minha dignidade que ninguém me tirou dali. Até ela sabia o tamanho do que a gente tinha tido, mulher sabe bem essas coisas, me olhou de canto como quem diz “chore ai no seu lugar que eu choro no meu” e morreu o assunto também, além do meu amado, é claro.
Fiquei então chorando no meu canto olhando aquele caixão enorme, por que ele tinha mesmo um corpanzil, aquele caixão enorme com aquele homem tão novo dentro e me perguntando que diabos o mundo queria de mim depois daquilo. É claro que sobrevivi senão não estaria contando essa historia pra você, mas naquele momento achei que não. Mentira vá. Achei que seria chato, achei que seria dolorido, mas nunca achei que não conseguiria, mas agora, a viúva oficial parecia dopada, e a louca-lésbica- racista com seus dedos gordos  roídos nas pontas se fazia  de mãe preocupada sentada na beira do caixão com um terço na mão me olhando de soslaio de vez em quando, quieta mas achando de muito mal tom eu ter ido até lá. Minha preocupação com isso era tão mínima dentro da minha própria dor e a minha própria raiva da ausência que ele me proporcionava era tamanha que tinha vontade de ir lá estapeá-lo dentro do caixão mesmo “Seu filho da puta, me faça o favor de ressuscitar!” eu nem me importava com mais nada.
Daí, depois que o enterro saiu e eu ainda fiquei chorando o vazio do caixão, eu pensei, bom ele já não está mais mesmo por aqui, é melhor que eu me defina de vez nessa vida. Depois de algum tempo eu fiquei me perguntando, e na verdade cheguei a ficar até ansiosa pra me apaixonar de novo, e como um insight eu conclui que aquilo tudo que eu tivera fora muito mais do que espontâneo, viera do nada e se fora do nada, amores surgem do sovaco de Deus e eu só fiquei esperando, por que era só o que me restava mesmo.
 E então eu queria terminar essa história com uma coisa positiva, por que falar de morte nunca é bom. Não é mesmo, de fato concordo. Mas, fico por isso mesmo. Aliás se querem uma coisa positiva mesmo assim eu digo, a dor é uma droga, mas passa. E todo mundo sobrevive. Menos o morto é claro que nesse caso já esta morto mesmo, então não faz diferença.

3 comentários:

Emanuel disse...

É, andei pensando na Morte também. Comadre cuja visita nunca é bem vinda, mas nunca recusada. A gente chora, fica vazio que nem um copo... e se enche de novo.
Do Vazio surgiu tudo, não é?

Daniele Andrade disse...

e do vazio surgiu nada!kkkkkk

... disse...

... amores surgem do sovaco de Deus....
Muito boa essa!!!