quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Portas são Metáforas ou O Posfácio do Epitáfio

"Bateram na porta, hesitei, não quis abrir. Bateram de novo com força, mas depois não insistiu, desceu as escadas em silêncio e para sempre partiu. Partiu deixando na porta estas palavras fatais:'Eu sou a felicidade e não voltarei jamais.' " Clarice Lispector.




    Um dia qualquer ele resolveu abrir a porta e ver o que estava acontecendo lá fora. O que não deixa de ser louvável, uma vez que há muito que se ter pena de quem morre e não vai a porta pelo menos uma vez  na vida.
Mas há lá fora também um problema, por que aqueles que vivem lá  muitas vezes não percebem a loucura em que estão imersos e quando finalmente voltam para dentro acabam sentindo-se mal por melhor que estejam, tão acostumados estão as intempéries as quais se expõem desprotegidos. Acostuma-se com o mal e ele fica sendo bem muitas vezes por mais mal que seja.
            Pois então que um dia ele quis abrir a porta e pediu de volta as chaves, que ela lhe entregou não sem certo pesar, por que abrir a porta novamente na maioria das vezes não é coisa fácil. Assim sendo, ora assim sendo, ele finalmente saiu e o sol ofuscou seus olhos  e por muitos instantes tudo que viu foram vultos da verdade mas nada muito consistente, apesar de divertido. E foi andando assim às cegas até que os olhos foram finalmente se acostumando à claridade e as coisas foram parando de fazer sentido. Caiu ele então em desespero, tentando coçar os olhos, querendo novamente deixá-los turvos em vão. Mas uma vez que viam tudo não havia mais como cegá-los novamente e com a luz veio a verdade e a verdade era pesada.
            Voltou-se e pensou em novamente bater a porta da qual saíra, mas que loucura, a porta agora estava fechada, não sabia se alguém ali ainda havia que pudesse lhe atender. E se batesse a porta, alguém lhe atenderia? E se atendesse, seria a mesma coisa? E se o fosse, aquilo ainda o satisfaria? Era tanta duvida que vivia que já nem sabia se arrependimento havia.
 E tanto ela lhe avisara antes de fechar a porta por completo, mas vontade de moço é surdez de conselho e preferiu viver a moda das gentes de seu gênero, a necessidade de aprender sofrer sozinho para ver o que é bom , por que as palavras jamais lhe foram úteis, mesmo que diversas vezes sábias.
Sentado numa pedra agora ele jaz no meio do caminho, meio morto, meio vivo, esperando endoidecido por uma porta que se abra, uma porta que o acolha, sem entender que  jamais se sentirá em casa enquanto não se ajustar na própria casa que leva dentro de si e quanto a isso não há saída. As duras penas é preciso aprender a viver.

3 comentários:

Drika disse...

Dani!

Massa demais.
Sempre leio o que você escreve
e tento comentar, mas sempre escrevo coisas bobas (como agora) :]

Beijos!

Felipe Godoi disse...

Qualquer semelhança é mera coincidência?
Excelente!

Daniele Andrade disse...

brigada drika!!!bjos