terça-feira, 24 de abril de 2012
Antropofagia
"Eu não acredito que no você diz..." ela disse pela primeira vez a frase que não se cansaria de repetir. Era de noite, fazia um calorão e lá no fundo haviam relâmpagos por entre as montanhas"Deve estar chovendo em Pinda..." e ele contou alguma história engraçada de alguma cidade por qual passara onde alguma coisa relacionada a chuva acontecera. Ela não pode deixar de rir, era vicio. Depois de um certo tempo ficou dessas pessoas que riem falsamente da propria piada e da alheia, mesmo quando não tem muita graça. Mas fora o riso dela que o prendera ali. "Nunca tive grandes pretensões amorosas.." tentou dizer, mas era uma grandessíssima mentira. Se ultimamente não sonhava era bobagem, sempre há um hiato, mas os sonhos voltavam meio ainda sonolentos do tempo hibernando, não sabiam se avançavam ou paravam, não sabia muito o que pensar. Só não acreditava em uma palavra sequer do que ele falava, não sabia se por que não queria ou se por que não dava mesmo.
domingo, 1 de abril de 2012
Vulto de Enfeite
"A dor as vezes dói tanto que não dá vontade de escrever" eu escrevi um dia daqueles no meu diário embaixo da árvore escura que havia no meio do pátio perto dos banheiros, onde já não havia ninguém. "A dor as vezes dói tanto que sinto sumir na dor, desaparecer." Mas nada doía tanto assim na vida além do meu próprio drama, particularmente a dor da ausencia do ser. Eu fui sumindo.
Eu ainda me revirava na cama a noite pois importunos sonhos roubavam-me as vezes as poucas horas de sono, eu não dormia e não levantava, ficava lá me vendo sumir. Um dia após o outro, a ausência de ser.
Eu gostava de sentar embaixo da árvore escura e pensar que surgiria de dentro de umas das portas dos banheiros um homem e me fizesse mal. Mas mal fazendo me fizesse sentir bem. Mal me fazendo me fizesse sentir. E eu continuei vendo o dia acabar muitas das vezes embaixo da árvore escura e nada aconteceu. "Tem uns oitenta anos essa árvore.." um dia me disseram e eu nem calculava que oitenta anos era muito tempo para ser invisível. Entre a multidão de árvores paradas no mundo aquela estava parada a oitenta anos. Havia o salão em frente a árvore onde nos reuníamos antes pra rezar, mas aos poucos todos os outros também foram partindo, eu achava aquilo de sumir muito pouco justo, por que todos partiam mas eu e a árvore íamos desaparecendo no mesmo lugar. Se alguém viesse e se sentasse em frente a mim e a árvore nos veria desaparecer aos poucos. Em breve caberiamos ambas em uma caixinha tão pequena que ninguém faria questão de guardar em lugar nenhum, tão pequeno enfeite, incapaz de enfeitar. Eu andava invisível por aqueles idos, e as portas dos banheiros continuavam todas fechadas. Quanto tempo ainda?
Eu ainda me revirava na cama a noite pois importunos sonhos roubavam-me as vezes as poucas horas de sono, eu não dormia e não levantava, ficava lá me vendo sumir. Um dia após o outro, a ausência de ser.
Eu gostava de sentar embaixo da árvore escura e pensar que surgiria de dentro de umas das portas dos banheiros um homem e me fizesse mal. Mas mal fazendo me fizesse sentir bem. Mal me fazendo me fizesse sentir. E eu continuei vendo o dia acabar muitas das vezes embaixo da árvore escura e nada aconteceu. "Tem uns oitenta anos essa árvore.." um dia me disseram e eu nem calculava que oitenta anos era muito tempo para ser invisível. Entre a multidão de árvores paradas no mundo aquela estava parada a oitenta anos. Havia o salão em frente a árvore onde nos reuníamos antes pra rezar, mas aos poucos todos os outros também foram partindo, eu achava aquilo de sumir muito pouco justo, por que todos partiam mas eu e a árvore íamos desaparecendo no mesmo lugar. Se alguém viesse e se sentasse em frente a mim e a árvore nos veria desaparecer aos poucos. Em breve caberiamos ambas em uma caixinha tão pequena que ninguém faria questão de guardar em lugar nenhum, tão pequeno enfeite, incapaz de enfeitar. Eu andava invisível por aqueles idos, e as portas dos banheiros continuavam todas fechadas. Quanto tempo ainda?
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